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sábado, 16 de julho de 2011
O que fazer quando dois cadeirantes tetra se gostam? Infelizmente, o capítulo final.
Adriana Lage comenta sobre o final de seu relacionamento com um cadeirante tetraplégico, mostrando que os desafios, alegrias e frustações do amor valem pra qualquer pessoa, independente de se ter uma deficiência ou não.
Adriana Lage
Vou começar o texto de hoje com uma citação de um desses emails que rodam pela internet. Não sei qual o autor, mas as palavras resumem bem o que ando sentindo:
"É hoje o dia da faxina mental. Jogue fora tudo que te prende ao passado, ao mundinho de coisas tristes, fotos, peças de roupa e toda aquela tranqueira que guardamos quando nos julgamos apaixonados.
Jogue tudo fora, mas principalmente, esvazie seu coração e fique pronto para a vida, para um novo amor.
Lembre-se, somos apaixonáveis; somos sempre capazes de amar muitas e muitas vezes.
Afinal de contas, nós somos o amor."
Serei breve! Como muitos leitores acompanharam e ficaram curiosos com meus textos sobre meu relacionamento com outro tetra cadeirante, resolvi compartilhar com vocês esse momento de luto.
Infelizmente, o sonho acabou. Mesmo sendo apaixonada pelo Alexandre, chegou a hora de seguir em frente. Nossos jeitos são muito diferentes. Ele é todo certinho, todo racional. Eu já sou toda atrapalhada e passional. Às vezes minha mãe me pergunta se não perdi algum parafuso da cabeça. Meu teclado já está todo molhado de tanto que chorei, então, não vou entrar em detalhes sobre o final infeliz da história.
É como dizem: quando uma coisa tem que dar certo, não é preciso muito esforço. Tudo flui e as coisas acontecem naturalmente. Quando a pessoa que você ama não te traz mais felicidade, apenas lágrimas e mais lágrimas, desilusões, mágoas e decepções, é hora de partir! Sei que vou passar maus bocados pra esquecê-lo, mas, graças a Deus, tudo passa. Mesmo com todos os últimos acontecimentos, se pudesse, ainda arriscaria uma última tentativa.
Quem me dera poder fazer igual em novelas e filmes e fazer o calendário voar...Eu juro que dessa vez pensei que tivesse encontrado o homem da minha vida. Que pena! Esse coraçãozinho só anda aprontando com a dona dele. Minha esperança é que tem vovós com mais de oitenta anos que arrumam seu companheiro. Só posso ter pregado chicletes na cruz! Sábado, estava esperando minha carona pra ir embora da pós-graduação quando conheci o Marcelão. Um homem alto, musculoso e tonto. Ele estava esperando a namorada fazer prova e aproveitou o tempo para tomar umas no boteco. Voltou com os olhos vermelhos e aquela alegria típica de quem tomou todas. A figura não me deu sossego. Ficou me elogiando, falando que sou muito bonita e simpática e que, se eu quisesse, trocava de namorada. Vi a hora de apanhar da namorada dele. Quando a mulher chegou, não gostou nada da empolgação do namorado falando sobre a Drica. Por que costumam me aparecer figuras estranhas? Bem que tentei evoluir namorando um funcionário público, mas não deu certo.
Sou uma pessoa bacana. Mereço alguém que me respeite e que me valorize. Mas, pra ser infeliz, ficar me magoando ou deixando o outro triste, é melhor partir enquanto resta algum carinho. Como diria meu ‘anjo da guarda’ Léo, vou cuidar de mim.
Como tudo nessa vida serve de aprendizado, fica aqui a certeza de que é possível sim o relacionamento entre dois cadeirantes tetraplégicos. Com certeza, trata-se de um encontro onde será necessária a ajuda de outras pessoas. Mas plenamente viável de realização quando existir amor de verdade e a vontade de ficar junto. Existe pouco material sobre isso. Por exemplo, não consegui encontrar nenhum casal brasileiro assim. Vale ressaltar que a distância é um fator relevante. Desse aprendizado, ficou também a mágoa de não poder contar com a boa vontade de minhas irmãs e prima para engrenar meu relacionamento. Quem inventou aquela frase “querer é poder”, com certeza, não era um cadeirante tetraplégico! Quando se depende de ajuda de terceiros, tudo fica mais difícil nessa vida.
O que determinou o final do meu relacionamento com o Alexandre não foi a dificuldade imposta pela deficiência. Nem tão pouco a distância. E sim atitudes presentes em qualquer ser humano, independente de possuir uma deficiência ou não. Para florescer e se manter vivo, o amor precisa ser cultivado todos os dias. Requer zelo, cuidado, carinho...Uma vez magoado, nem sempre existirá remendo para um coração partido.
É difícil encontrar as palavras certas para descrever esse momento tão ruim. Vou deixar a música Meu Jardim, de Vander Lee, falar por mim:
“Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores
Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores
Refazendo minhas forças, minha fonte, meus favores
Tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores
Tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho
Tô soprando minha brasa, minha brisa, meu anjinho
Tô bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho
Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho
Estou podando meu jardim
Estou cuidando de mim"
Fonte: http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi¶metro=32278
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